" No final, é importante lembrar que não podemos nos tornar o que devemos ser se continuarmos sendo o que somos."
Max de Pree































domingo, 20 de fevereiro de 2011

O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura. A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz a partir do único lugar onde a felicidade pode começar, florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus frutos.

Do texto "Nexo

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Responsabilidade


Cansei de me flagrar em circunstâncias em que eu jurava que havia ocorrido uma falha do cenógrafo na montagem do ambiente: tudo o mais poderia estar no lugar correto, mas eu não era para estar ali. Aí era um tal de listar os supostos culpados, lamentar a má sorte, um blablablá triste toda vida, sob o fundo musical de “Ó, Deus, como sou infeliz”. Muitas cenas depois, porque só o tempo é capaz de nos dar olhos que vêem um pouco além das aparências, comecei a encaixar as peças daquelas tais circunstâncias e a perceber que sempre estive exatamente onde eu me colocava. Nem um centímetro a mais nem a menos. Eram os meus sentimentos, minhas dores pendentes de cura, minhas crenças equivocadas sobre mim, que me atraíam para aqueles cenários. Peças encaixadas, descobri, no fim das contas, que a roteirista o tempo todo era eu. Se a história não me agrada, preciso aprender a reescrevê-la até que se torne parecida com a idéia que passa pelo meu coração. O roteiro só muda quando eu assumo a minha responsabilidade por ele e me trabalho para ser capaz de mudá-lo. Não adianta culpar o cenógrafo.
Ana Jácomo